domingo, 28 de agosto de 2005

NOITES RITUAL ROCK- JARDINS DO PALÁCIO DE CRISTAL (PORTO) - 26 E 27 DE AGOSTO

Pelo 14º ano o ritual cumpriu-se em favor da música portuguesa. Pela primeira vez em 14 anos houve uma banda que pegou nas guitarras durante a tarde, se foi embora, deixando um dos palcos mais vazio.
Mais uma vez, este foi um encontro de velhos amigos, que se juntam em duas noites para aplaudir o que de melhor se faz em Portugal.
E se muitos criticavam a falta de grandes nomes, o que é bem verdade é que nestas Noites Ritual, se assistiu a alguns dos melhores concertos de que há memória em todos estes anos.

DIA 26 DE AGOSTO

Palco Principal

WORDSONG

Primeiro concerto da banda ao ar livre. Muitos temas novos. Alguns problemas de som.
As palavras de Fernando Pessoa que vão encher o próximo disco, fizeram-se ouvir, deixando-nos com água na boca. Al Berto esteve igualmente presente em alguns temas do primeiro registo.
A pop, o experimentalismo, o dadaismo e o improviso servidos em alguns minutos de música. O som e a imagem em perfeita comunhão.
Faltou apenas um pouco mais de garra. Se calhar este é um concerto para ver sentado.
O público estranhou. Contudo, aceitou. Não explodiu de alegria, mas aplaudiu.

NOTA: 4

PLAZA


Primeiro grande concerto destas duas noites. O branco a vestir o palco. A festa a invadir o jardim com os corpos a dançar.
O glamour que se mistura com a melhor ectro-pop dos anos 80 é servido em temas que os Plaza criam a pensar na diversão.
Muito suor. Lá em cima do palco e cá em baixo. Os Plaza estiveram frenéticos. É difícil ficar indiferente a um concerto em que os músicos se entregam como se este fosse o último das suas vidas.
A música entra fácil nos ouvidos e comanda o corpo. Sem tempo para pausas. No final estamos todos de rastos.

NOTA: 5

COOL HIPNOISE

Apesar de este ter sido um bom concerto, ficou no ar a ideia de já os termos visto em melhores noites.
Muito funk servido por um naipe de excelentes músicos. Duas grandes vozes. Um grande momento com as percussões a invadirem o palco.
Pelo ar um desfile de temas conhecidos. Faltaram coisas novas. Faltou sentir que a banda tem futuro e que o passado não é muro difícil de transpor.
Assistimos a grandes momentos em que a partilha com o público foi total. Contudo faltou aquele saber fazer, que tão bem caracterizava os Cool Hipnoise, e nos agarrava da primeira à ultima nota dos concertos.

NOTA: 4

Palco Ritual (Noite Borland)

COMPLICADO

Muito complicado. Não tocaram. Ninguém sabe porquê.

ÖLGA



Grande momento. Nada a apontar. Foi perfeito. O público agarrou o som, apesar de a música dos Ölga não ser nada fácil.
Na concha, ouviram-se sons pós-rock, onde cabem momentos sónicos, de improvisação de jazz e claro de rock.
A voz usada, de quando em vez, como instrumento. Os teclados quase sempre a dominarem. As guitarras a chutarem grandes muros de som. A curiosidade de vermos, em alguns minutos, duas baterias em despique.
Sim, porque aqui vale tudo. A imaginação criativa não tem limites.
Ainda bem que existem editoras como a Borland para fazerem chegar estes momentos até nós.

NOTA: 5

ALLA POLACCA


Tudo temas novos. Os Alla Polacca estão vivos. Bons momentos de música, misturados com sons a necessitarem ainda se ser polidos.
Constantes variações de ritmo a surpreenderem o povo. Muita pop. Alguns momentos mais sónicos. Uma leve experimentação.
Concerto muito introspectivo. Uma brisa a soprar no ar que nos diz que o disco que sai para o ano deve ser bom.
Para já a certeza de que em palco os temas sofrem, pois necessitam ainda de uma maior exposição.
Mesmo assim, este concerto valeu muito a pena, pois não há por estes lados muitas bandas assim.

NOTA: 4

DIA 27 DE AGOSTO


Palco Principal

SUPERNADA


Este é o outro projecto de Manuel Cruz. Muito mais próximo dos Ornatos Violeta que os Pluto.
Muito rock Por vezes a lembrar os anos 70. Muita energia. Muito suor na cara dos músicos. O público completamente rendido. Não há quase tempo para respirar.
Primeiro, Manuel Cruz, tira a camisola, depois a ligadura do joelho que lhe tolhia os movimentos. No final do concerto coxeia. O rock assim dói e deixa marcas no corpo do músico que se entrega. A sua alma está naquele palco.
Foi irrepreensível. Este som tem uma força bruta. Só é pena que as palavras se embrulhem por vezes em demasia com a restante música.


NOTA: 4,5

BUNNYRANCH



Ninguém estava à espera disto. Da chuva. E ninguém estava à espera de ver um concerto assim.
Todos se renderam e nem as pingas de água os fizeram arredar pé. Foi impossível resistir a tanto rock. Tanto blues. Tanta energia.
Kaló é um animal de palco. Toca bateria, canta e sem se perder consegue ainda ter o público todo do seu lado. As teclas do Filipe preenchem todo o espaço sonoro.
Pelo meio a versão de “Tetas da Alienação” dos Mão Morta. Irá aparecer num tributo à banda de Braga. O tema deixa de ser dos Mão Morta para pertencer por inteiro à banda de Coimbra.
Não houve tempo para falhas. Foi sempre a abrir. Kaló veio cá a abaixo cumprimentar o público, que por vezes “enganou”, trocando-lhes as voltas nos finais de algumas músicas. No fim agradeceu o esforço dos presentes que resistiram à chuva.
E nós cá em baixo agradecemos este concerto, que não vamos esquecer durante muito tempo.

NOTA: 5

WRAYGUNN


Paulo Furtado é grande. Frenético. Imprevisível. Provocador. A meio do concerto saltou para junto do público, ao voltar a palco trepou pelo suporte que segurava as colunas. Depois subiu para a mesa do DJ. Nunca parou de cantar. Esteve sempre a saltar e a rastejar. No fim teve tempo ainda para amolgar uma das suas guitarras, batendo com ela violentamente no chão. É este o espirito do rock. Um forma de estar em palco que contagia os restantes músicos da banda.
E contagia quem vê. O público rendido ao rock e ao blues dos Wraygunn, não parava de abanar o corpo.
Fecharam em grande com o tema dos The Who “My Generation”, este magnifico momento. Foi um dos melhores concertos que já se viram por estes lados.

NOTA: 5

Palco Ritual

GAJOS BAIXOS


Os Gajos Baixos são altos. São dois baixistas em palco. Bons instrumentistas. Muito jazz, algum improviso. Som difícil de mastigar. Definitivamente não é para este espaço, nem para estas noites.
Depois de alguns minutos, torna-se um pouco monótono.


NOTA: 3


HOUSANDBASS


Um DJ a colocar discos de funk e house, acompanhado por um baixista. O conceito é diferente, mas deslocado do espaço, torna-se pouco apelativo. E depois de se ver um bom concerto rock no outro palco a coisa torna-se ainda mais complicada.


NOTA: 3


ALEX FX

Confesso que depois de ter apanhado uma molha a ver os Bunnyranch, não tive pernas para descer a rampa para espreitar Alex Fx. O que ouvi ao longe pareceu-me agradável. Sentei-me numa cadeira e recuperei forças para ver Wrygunn.


Mais uma vez os parabéns à Ximfrim por estas duas magnificas noites. Fica assim provado que ainda continua a valer a pena apostar na música nacional.
Para o ano cá nos encontramos outra vez.


Nuno Ávila

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