segunda-feira, 4 de junho de 2012

Gaiteiros de Lisboa - “Avis Rara” (d’EURÍDICE)

















Seis anos. É precisamente este o tempo que os Gaiteiros de Lisboa levaram para editar um novo disco. E grupos destes fazem-nos falta! Como é possível o mercado não reconhecer o inegável valor deste colectivo. Como é possível tão brilhante carreira não ser mais reconhecida por quem manda nas editoras. A verdade, meus amigos, é que a qualidade não vende. Dizem alguns… Mas felizmente ainda andam por aí pessoas de vistas largas e bom gosto. Tiremos a o chapéu à d’EURÍDICE.
Serão os Gaiteiros de Lisboa uma banda de música tradicional? Pergunta pertinente e de difícil resposta. Se por um lado grande parte  das letras que cantam provêm de recolhas tradicionais, já o mesmo não acontece com a parte musical. Mas, é bom referir  que existem palavras cantadas que são do cunho pessoas de alguns dos elementos da banda ou de grandes poetas.
O que é certo no entanto, é que ao escutarmos cada uma das suas canções encontramos cravado nelas um cunho muito tradicional.  Por isso será licito dizer que os Gaiteiros de Lisboa reinventam o tradicional.  Letras sempre riquíssimas e uma parte musical que nos abre uma paleta de inesgotáveis cores. Sons onde a experimentação faz todo o sentido.
Este novo “Avis Rara” não foge à regra. Já não é possível desaprender. Estão presentes nestes dez temas todas as qualidades que sempre nos fizeram gostar da banda.
Um disco que conta com algumas preciosas colaborações, caso dos Adiafa, Zeca Medeiros,  Sérgio Godinho ou Ana Bacalhau. Todos eles emprestam de uma forma sublime o seu talento a este disco.
Como acontece sempre, volta a estar aqui pintado neste quadro um fundo em que o tradicional  é a cor mais dominante. Se as letras nem sempre são de recolha tradicional, se a música não vem directamente da tradição, a soma das partes dá-nos esse resultado. Temos por aqui em algumas canções harmonias de vozes que nos lembram por exemplo cantares alentejanos.”Faz Sábado Quinta-Feira” é um exemplo.
Isto para dizer, que mais uma vez os Gaiteiros de Lisboa  dão a volta ao texto, com um brilhantismo que nos deixa de boca aberta. Lançam mais um disco coerente e recto com sempre fizeram.
Refazem sem medo a tradição. Criam, podemos dizer, nova tradição, provando que o tradicional não é feito só de passado.
“Avis Rara” é um disco grande de um grupo, que mesmo sem esmorecer, volta agora às luzes da ribalta. E eles merecem toda a nossa admiração.
Agora resta escutar o disco e se for caso ir vê-los ao vivo. A tradição já não o que era, dizia um velho anúncio. Não podemos estar mais de acordo.

Nuno Ávila

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