segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Um Corpo Estranho - “De Não Ter Tempo” (Edição de Autor)




















Este disco escorre portugalidade. E não é só pelo facto de as letras serem cantadas em português. Está tudo muito ligado a um sofrimento que nos é familiar. Olhando para a contracapa do disco vemos um coração trespassado por uma faca, que sangra. São os nossos desamores. E é isto que maioritariamente cantam os Um Corpo Estranho. Canções de encontros e desencontros. Um eu que sofre. Somos muito assim. É este o nosso fado.
Sim, porque esta música tem essencialmente um lado fadista, que eles reinventam. E a tudo isto eles juntam uma pitada de rock, uns salpicos de blues, umas gotas de tango e uns nacos de musica espiritual.
E assim, o Pedro Franco e o João Mota, oferecem-nos um disco que apesar de alguns rasgos, como o do já conhecido tema “Auto-Coação”, não deixa de ser um registo intimista. São 12 canções que nos fazem pensar, que quase nos torturam a alma. E são discos assim que nos mexem com o espírito, aqueles que nos dão mais gozo escutar.
De destacar o bonito tributo aos MadreDeus, na recriação de “Vem (Além de Toda a Solidão)”. Até nesta escolha o duo optou por ir buscar um tema que encaixa que nem uma luva no seu reportório. O sofrimento dos MadreDeus é o sofrimento de Um Corpo Estranho.
No fim ficamos com um corpo estranho. Um resto de nós estendido nos lençóis, à espera que um novo amor nos dilacere. E sem medo da dor carregamos novamente no play. Tempo… de não ter tempo dizem eles…. Mas ter tempo, digo eu, para nos deleitarmos com um disco que tem muitos encantos, apesar do seu lado por vezes mais negro. Estas são canções que brilham no escuro. Simples, com arranjos certeiros e quase sempre descarnadas, mostrando toda o seu interior.
 
Nuno Ávila

1 comentário:

José Cruz disse...

Concordo "estranhamente" com o "corpo" do teu comentário, Nuno, com uma simples, mas certeira denuncia..., é que o João é "Mota", não "Matos"... "Estranha" forma de lhe dares "Corpo" nesta crítica acutilante...