segunda-feira, 31 de março de 2014

JÁ CHEGOU O DISCO DE BRUNO PERNADAS
















CONCERTO DIA 16 DE ABRIL, ÀS 22H, NO TEATRO MARIA MATOS

“(…) A primeira vez que vi tocar Bruno Pernadas (com o quinteto de jazz When We Left Paris), no café Tati, uma pequena sala junto ao mercado lisboeta da Ribeira, tudo me impressionou nele: o virtuosismo; o elaboradíssimo sentido melódico e rítmico; o ouvido impecável, a forma como deixava a música respirar, como ouvia os colegas, os pequenos comentários contrapontísticos e corais; as transições preparando mudanças surpreendentes; o sentido de tempo, a forma como parava e deixava a música discorrer, ou como retomava o tema com uma nova proposta; a procura dentro dos temas, sem nunca abandonar a homogeneidade das canções. Era incrível como a densidade da música, o espaço para a individualidade de cada um dos instrumentistas nunca estorvava a clareza, o contraste, o cromatismo, as nuances e toda uma diversidade temperada de soluções.

Tão boas me pareceram todas as músicas, em cuja escolha adivinhei uma erudição professoral, julguei tratarem-se de covers de temas menos conhecidos, mas não menos brilhantes, dos grandes compositores de standards. No final do concerto, ainda sob o efeito do êxtase, perguntei-lhe de quem eram os temas. Quando Pernadas me respondeu que eram todos dele excepto um, a cabeça quase me saltou do pescoço. Nada é tão chocante como descobrir que o motivo do nosso espanto está plantado à nossa frente.
 
As suas composições conseguiam integrar, com uma maestria alquímica, três dos aspectoscriativos mais difíceis de conciliar: originalidade, perspectiva histórica (ou erudição, se preferirem, que é a capacidade de brincar com partículas de outros temas ou dialogar com a música dos outros sem se deixar conotar) e uma elegância de processos sempre repleta de motivos surpreendentes.

(…) Há um mundo de sons encantatórios, não sabemos se efabulados, se à deriva na memóriade quem os toca, que são visitados em How can we be joyful. Nesta viagem musical tudo está de passagem, tudo é provisório. O título do disco é muito bonito porque a música, numa expedição em que prazer e aventura são sinónimos, procura mesmo responder à pergunta nele contida. A felicidade não é o conhecimento contido no mundo, mas todos os pequenos mundos que se vão descobrindo e interligando no acesso ao conhecimento.

“E gostaste do disco?”, perguntas tu. Não consigo deixar de ouvi-lo.”

Rui Catalão

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