quinta-feira, 26 de junho de 2014

ASTERISCO CARDINAL BOMBA CAVEIRA LANÇAM DISCO

















ESTA ALEGRIA NADA A PODE CONTER
CONCERTO 1 DE JULHO, MUSICBOX, LISBOA
 
Um baile para todos os verões
 
Antigamente, antes dos erres-éne-bês entrarem nas estereofonias, com as suas batidas electrónicas e os seus sintetizadores omni-poderosos, era o roque éne role que mandava no mundo juvenil, que fazia a base da música popular que os jovens usavam para o seu arraial. Uma bateria quatro-por-quatro, um baixo seguro, uma ou duas guitarras para a festa e toda uma série de caprichos de vozes. Romance, diversão e alegria, “à volta do relógio” com Bill Haley e os seus cometas, ou no surf-roque de Brian Wilson e sua família californiana de putos de praia. Tempos de baile, tempos de Verão, por assim dizer.
 
Os Asterisco Cardinal Bomba Caveira são, de certa forma, as últimas encarnações dessa espécie de roque éne role que artistas como Haley e bandas como os Dovers tão bem sintetizaram. Usam guitarras juvenis, que tanto bebem a um balanço estival e solarengo, próprio da areia lusitana, como ritmam a um estilo mais urbano e moderno, com rifes de alto gabarito que fariam certos nova-iorquinos corar de inveja (não fossem os quatro membros da banda filhos musicais dos anos zero).
 
Por fim, acomodam as melodias com vozes e coros que fariam os Beach Boys sorrir, do alto da sua praia pop, e atiram refrões redondos, alegres e orelhudos, que nem graúdos cinzentões conseguem resistir a cantar. Filhos do seu tempo, mas clássicos invertebrados: uma canção é para cantar, e não ficar na gaveta. O seu EP homónimo — uma relíquia que, devido à riqueza do pop-roque nacional dos últimos anos, arriscou-se a passar despercebida — já anunciava um tempo assim: de épicos-chiclete cheios de sabor e energia.
 
Passou-se demasiado tempo desde esse lançamento, mas quando o peixe é bom, mais vale tarde do que nunca. E, no caso dos Asterisco, é um tubarão bem maneiro e animado que encontramos. O seu disco novo, Esta Alegria Nada a Pode Conter, tem onze canções, todas a apontar ao single. Há mar e mar, há prancha e voltar em Fazendo Surf, há declarações e mensagens bem sonoras e dedicadas para meninas de nome Mariana e Amélia, há reflexões mais roqueiras, a boa melancolia de passeio lisboeta em Primavera e Bola Para a Frente.
 
Mas o momento alto, estrondoso, é tão grande como a referência: Estrada de Damasco, um tiro em cheio para todos os lados, verso, refrão e solo em cheio. Os Asterisco são uma banda orelhuda, daquelas que fica no ouvido até ao dia seguinte, provocando os maiores sorrisos.

Pode ser, como cantam a abrir — e que abertura do caraças! — que não haja Bailes Americanos em Portugal, quando se tem 17 anos. Mas se Bill Haley ouvisse esta festa que os Asterisco mandam,bateria palmas de certeza. Dos 17 aos 77, é mesmo para dançar, ao som deste disco. Sorriam, que o sol chegou à cidade, e chega para todos nós.
 
Martinho Lucas Pires


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