domingo, 14 de março de 2004

GOMO - Best Of Gomo (Universal)



Ao gravar o seu primeiro disco, ironicamente chamado “Best Of”, Paulo Gouveia, ou seja Gomo, tinha em mente pintar a pop de cor-de-laranja. Só que a tela em que pincelou as suas notas musicais ficou com um canto de outra cor. Este disco apesar de maioritariamente pop, tem um ou dois temas quase a roçar o rock.
Este “Best Of” começa muito bem com três temas que nos fazem crer que estamos na presença de um grande disco. Só que com o continuar da audição apercebemo-nos que o espirito criativo de Gomo por vezes se perde em guitarras que não deviam fazer parte deste disco. Mas se formos pacientes e continuarmos a escutar o cd, descobrimos que a partir da nova versão de “Be Careful With Train”, o disco ganha de novo brilho, e faz-nos acreditar que aquelas cinco musicas do meio são um pequeno deslize desculpável, isto porque apesar de menores no contexto das restantes, são temas que a pop portuguesa não estava habituada a ouvir.
Há quem diga que Gomo é o Beck português. Se a maioria dos temas nos leva a crer que Paulo tem uma grande admiração por este senhor, ao escutarmos a faixa “It’all Worth It” descobrimos que Gomo também nutre igual simpatia por Divine Comedy.
O que mais seduz ao ouvirmos este disco são os teclados e as batidas saídas de uma caixa de ritmos. Instrumentos que bem poderiam ter sido comprados na feira da ladra. Quando no meio dos temas aparecem vozes que parecem tiradas de um qualquer desenho animado, entramos quase num mundo que há anos foi o nosso. Por momentos recordamos o tempo em que ainda jogávamos à bola no jardim.
“Best Of Gomo”, acaba por ser um bom disco, quando tinha tudo para ser considerado o disco que fazia falta à música portuguesa. Mas enfim, não se pode ter tudo. Temos que nos contentar com os magníficos sete temas que Paulo Gouveia nos oferece, e ter a certeza que estamos perante um músico com enorme talento. Com um talento tão grande que às vezes não sabe bem como o gerir…

Nuno Ávila