segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Bernardo Devlin - “Ágio” (Sinal 26/Nau)




Bernardo Devlin é um experimentalista. Corre-lhe tal gosto no sangue. Ou melhor no osso… exótico. Desde que em 1989, Bernardo Devlin formou com David Maranha, André Maranha e António Forte o seminal grupo Osso Exótico que essa forma de encarar a música se entranhou no seu corpo. E mesmo para lá dos Osso Exótico, tudo o que Bernardo Devlin tem composto a solo está muito longe daquilo que a vulgar canção de música nos pode oferecer. Falamos claro aqui de inovação e do querer fazer diferente.
Somos então chegados ao fim de 2008 e a este “Ágio”. Aqui mais uma vez Bernardo Devlin experimenta. São duas experimentações. Uma pela via do som, onde a electrónica domina. Outra pela via das palavras, que são jogadas para cima do som, quase em forma de spoken word, oferecendo ao ouvinte uma poesia desalinhada, mas que faz todo o sentido. Neste emaranhado, torna-se por vezes difícil de discernir se será o som a mandar ou as palavras a comandar. É que algumas vezes as frases são postas de forma a fazerem-se soar como mais um instrumento. Contudo, é de salientar o esforço de Bernardo Devlin ao tenta fazer muitas das canções chegar quase ao formato pop, para as tornar mais amigas dos ouvidos.
Contudo, estamos mesmo assim, perante um produto, que não é de consumo fácil, mas que se agarra a nós com mais violência a cada audição. Convém entrar bem dentro de “Ágio” para o entender melhor e assim contornar os seus sons e as suas palavras de forma sorrateira. É um trabalho que vos digo, dá bastante gozo.
Num disco em que é ladeado por Maria João Neves, Miguel Cintra, Tiago Miranda, Dorit Chrysler, Pedro Oliveira, Pedro Alçada, Lilith, Raul Cruz, Karlheinz Andrade, Bernardo Devlin oferece-nos como resultado final um registo, que prova que a música portuguesa deve sair da linha, para ganhar novas cores. São discos como estes e o dos Gala Drop que nos fazem querer que o futuro existe.
Vamos então partir à descoberta!…

Nuno Ávila

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