segunda-feira, 28 de novembro de 2016

10 ANOS DE VERA MARMELO A FOTOGRAFAR














Escreve a fotógrafa:
 
"Em Dezembro de 2016 celebro 10 anos online, 10 anos a acumular  as imagens  dos concertos a que assisto, os festivais que acompanho religiosamente, as salas onde  acho que faz sentido a minha presença, os retratos que vou fazendo a músicos e a  outras pessoas com que me relaciono e cruzo, as salas de ensaio , os estúdios e os  soundchecks.

De uma forma muito natural fui-me aproximando de músicos. Eram os  amigos  que mais à mão estavam no Barreiro. De uma forma ainda mais natural o grupo de  amigos e conhecidos a fazer música e a cruzarem-se comigo foram crescendo de uma  forma exponencial.
Passados estes 10 anos continuo a alimentar o blog religiosamente. A cada concerto que vou, a cada retrato que tiro para celebrar um novo disco,  lá está, mais um  post, mais umas dezenas de fotografias para o celebrar.
No entanto, começo a acreditar que para quem é novo ali, ou não tem a  possibilidade de visitar o blog com alguma regularidade perderá o fio à meada.

Assim decidi celebrar estes 10 anos com um novo site, desenha do pelos  DESISTO.
E o exercício passou por desenhar 3 diagramas para cada um dos 3 intervalos de  tempo, percorrendo os posts do tal blog.  
2006 a 2009
2010 a 2013
2014 a 2016
 
Dia 12 de Dezembro arranca o site e fotos das pessoas do tal diagrama de "2006 a 2009" em destaque.

A 12 de Dezembro é lançado um poster 100x70cm, a cores, com essas mesmas  fotos numa face e duas fotos 50x70cm, daqueles que foram aos meus  olhos os mais  importantes na outra face.

2 fotos enormes para pendurar na parede, ou um poster resumo, de uma  curadoria muito pessoal da música que fotografei entre 2006 e 2009.

Em Março de 2017 inaugura-se  "2010 a 2013"e a Junho de 2017 "2014 a 2016.
2006 a 2009
Em 2006 inauguro o blog com um  Outfest fotografado, consistentemente pela primeira vez.

É nesta altura que começo a relacionar-me de forma mais próxima com o Tiago Sousa , destacado numa das fotos maiores do poster e o escriba do texto que  o  acompanha.

O Tiago começava a MERZBAU. Tempos de myspace, forum sons, bola chas grátis,  concertos sem telemóveis e muita energia à volta de tudo o que podíamos fazer  sozinhos.

É nestes anos, que de forma muito consistente, a MERZBAU ganha caminho com  edições digitais, promoção de músicos, organização de concertos, tudo o que possamos imaginar, que um grupo de amigos conseguia fazer pela música uns dos outros. Eu, como amiga do Tiago, começo a interessar-me pela ideia de documentar os concertos, fazer os retratos para promover e ajudar em tudo o que fosse possível.

Aprendemos muito juntos.

Juntavam-se à Merzbau gente como o Lu ís Nunes (benjamim), Noiserv, Lobster, BFachada. É numa noite organizada a meias entre a Merzbau e o Má Fama de Sérgio Hydalgo (actual curador de músicada ZDB) que vejo o Norberto Lobo tocar pela  primeira vez. É através do Fachada que conheço a Márcia e o João Paulo Feliciano, é com ele que vou pela primeira vez ao Golden Pony e que chego até à Flor Caveira.

A Flor Caveira tem a sua fase de maior força exactamente nessa altura. Vejo nesses anos muitos concertos de Samuel Úria, Pontos Negros, o Tiago Guillul, nas suas mais variadas formas. 
Também  é em 2009 que conheço e fotografo pela primeira vez uma das minhas bandas favoritas no Namouche - os Linda Martini.

Em 2007 o Sérgio Hydalgo começa a ser curador para a música da Galeria Zé dos  Bois. Amigo próximo leva-me a frequentar a sala muito assiduamente. Sublinham-se desses 4 anos os nossos encontros com a  Julianna Barwick , os  primeiros concertos do  Bonnie Prince Billy,  Konono #1 no Jardim Botânico, Dirty  Projectors e Lightning Bolt.

BIO
Vera Marmelo nasceu em 1984, no Barreiro, e fotografa músicos desde 2004. Autodidata no que respeita à fotografia, Vera é motivada desde o início pelas amizades aos músicos da sua cidade natal. É também no Barreiro onde começa a frequentar e a fotografar festivais, o Out.fest e o Barreiro Rocks.
 
Passados mais de 10 anos desde o início desta aventura com os ami gos, os músicos, os concertos, as salas, os festivais e as ocasiões mais ou menos especiais vão-se multiplicando e o seu arquivo pessoal crescendo. Alimenta de forma muito regular um blogue desde 2006 e tem ainda a meias com Rita Tomás um projeto de entrevistas em modo site chamado boca-a-boca. Mantém uma ligação especial  com a Galeria Zé dos Bois e o festival Barreiro Rocks. Em 2013 e 2014, editou dois livros  de autor o
primeiro de retratos em nome próprio e o segundo a duas mãos a pro pósito do 20.ª aniversário da Galeria Zé dos Bois. Integrou ainda duas exposições coletivas n’A Pequena Galeria (2015) e na ExperimentaDesign’15. Mas a motivação continua a mesma. Na verdade, a minha ligação à fotografia acontece a par da minha ligação à música. É o meu instrumento, a minha desculpa para estar sempre presente e a minha maneira de contribuir para divulgar os músicos que acompanha".

O blog: http://v-miopia.blogspot.pt não será substituído, mas terá um amigo à altura.

Um novo site: veramarmelo.pt (se clicarem neste instante no link não vão conseguir ver muita coisa. mas há uma entrada que já tem fotos!)"

 Pequeno preview, do trabalho ongoing do site aqui: veramarmelo.pt/portraits 

Texto de Tiago Sousa, que irá acompanhar o POSTER (formato físico)
 
O espírito humano torna-se magnânimo quando manifesta a particularidade. O trabalho mecânico está subordinado a regras e realiza resultados formais, produtos caracterizados pela regularidade, por oposição, a expressividade resulta da singularidade. É preciso que essa actividade resulte de um pensamento disciplinado para que se torne fecundo, uma vez que, todo o ofício se exerce sobre uma matéria densa que precisa ser dominada. Como tantos outros miúdos, a Vera começou a fotografar concertos com uma pequenina máquina digital, isto foi antes da era-da-internet-das-coisas.
 
À sua volta, outros miúdos pegavam em guitarras, emulsionados por uma vontade  insondável. Com o tempo, a Vera tornou-se coleccionadora de memórias,  arquivista de sonhos.  Estou convencido que o que existe de genuinamente humano é esta compulsão criadora e o que esta era tecnológica tornou possível foi algo sem precedentes nessa matéria. Uma miúda, descendente de alentejanos migrados no Barreiro, gente operária, humilde, pode fintar o destino e  entregar-se à paixão inusitada deregistar os seus amigos e de os surpreender.
 
Essa miúda, torna-se autora de um dos mais importantes arquivos de histórias do que outros miúdos, com guitarras e não só, estavam a fazer. Construído à custa de muitas horas roubadas ao sono e dedicadas ao seu ofício: olhar,  registar, arquivar. A mesma Era que fez do seu ofício uma espécie em vias de extinção, quando os efeitos da reprodutibilidade técnica se tornaram ainda mais tangíveis, deu-lhe as ferramentas para se distinguir.
 
Alimentada pela mesma inocência, irreverência e impulso para acção, que são a linha bissectriz que une a Vera senhora do seu nariz e essa miúda fã de Deftones que girava k7's até ficarem gastas. Tal como Sísifo, para quem cada átomo da sua pedra, e cada socalco da ladeira através da qual faz rolar essa pedra montanha acima e abaixo para o resto da eternidade, dá forma a um mundo em que o esforço na ascensão  às alturas é suficiente para insuflar o seu coração. Talvez a grande obra tenha menos importância por si própria do que na provação que exige e na oportunidade que oferece a cada um para vencer os fantasmas e se aproximar um pouco mais da sua realidade íntima.
 
Tiago Sousa

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